quinta-feira, 6 de setembro de 2012

SINDIblue Suerde CATO'S Shoes (1971)



Os Sindicato foram criados na recta final da década de 1960. Este projecto foi praticamente um «who's who» do rock nacional de então. Pelas suas fileiras passaram Ricardo Levy e Júlio Gomes (guitarras), Edmundo Falé (voz, ex-Ekos e Conjunto Mistério), João Maló (ex-Chinchilas e guitarrista de estúdio, pai do compositor Nuno Maló), Eduardo Oliveira (também conhecido como Necas, e que participaria nas gravações do 1º LP do Quarteto 1111, sendo mais tarde um dos membros dos NZZN), Vítor Mamede (bateria, ex-Chinchilas e futuro membro dos Status, Quarteto 1111 e Green Windows), Rui Cardoso (saxofone, ligado ao jazz desde os finais dos anos 50 e autor de bandas-sonoras de vários filmes portugueses) e Rão Kyao (que tinha já integrado o Bossa Jazz 3, partindo já depois do 25 de Abril para uma reconhecida carreira a solo), além de dois outros músicos na secção de sopros, Luís Pereira (trompete) e Cirilo Coutinho (trombone), este último já falecido, assim como Jorge Palma que foi teclista e cantor dos Sindicato, banda rock com ambições a ser uma espécie de Blood Sweat & Tears portugueses, para o que muito contribuiu a inclusão de uma secção de metais da qual fazia parte Rão Kyao. O facto dos Sindicato terem de coordenar uma série tão diferente de sonoridades inspirará Palma a trabalhar como arranjador, carreira que o ajudará a sobreviver durante parte da década de setenta, ao regressar, depois do 25 de Abril, de uma estadia de um ano na Dinamarca para evitar a chamada à guerra colonial.

Numa época em que primeiro os Blood, Sweat And Tears e depois os Chicago surgiam com um rock marcado pelas sonoridades do jazz, os Sindicato tentavam também, tal como o projecto O Controle, mostrar que em Portugal havia um caminho a trilhar nessa área. No que toca a edições discográficas, deixariam apenas os seus talentos no single «Smile», de 1971, e em dois temas da colectânea de Paulo de Carvalho publicada no mesmo ano pela Phonogram, editora hoje representada pela Universal e com a qual o grupo tinha contrato.

No primeiro destes discos, apresentavam, no lado A, a composição original homónima, com uma progressão musical algo devedora do free-jazz, e, no lado B, uma leitura muito particular para «Blue Suede Shoes», de Carl Perkins. A produção ficou a cargo de Luís Villas-Boas, patrono do jazz português, que na altura colaborava com a editora.
Os Sindicato foram encarregues de fazer versões instrumentais precisamente para «Flor Sem Tempo» e para «Walk On the Grass», um dos dois temas que o espanhol Manolo Díaz entregou à «Voz» nacional.

No Verão de 1971, os Sindicato participaram no Festival de Vilar de Mouros, actuando no fim-de-semana dedicado à «música moderna para a juventude», a 7 e 8 de Agosto. Com Edmundo Falé como vocalista, o grupo apresentou a sua música a um público que não entendia as deambulações jazzísticas e elaboradas dos músicos, mas que depois não regataria aplausos ao concerto da Manfred Mann's Earth Band (que ainda estava a seis meses da edição do seu álbum de estreia).

Em 1972, a banda terminou a sua carreira.



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